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sábado, 28 de dezembro de 2019

COHAB Itaquera - SP


A ocupação de Itaquera começou no fim da década de 1910 e se acelerou nas décadas de 1950 e 1960. No começo dos anos 1970, o bairro ainda contava com vazios urbanos e áreas rurais remanescentes, com uma distribuição de população desigual. Mesmo em partes mais antigas do bairro a estrutura urbana era deficiente. A precariedade e a carência de moradias no país levaram a ditadura a montar o SFH (Sistema Financeiro de Habitação) e a criar o BNH (Banco Nacional da Habitação) para implantar uma política habitacional centrada na construção de casas e apartamentos para a população de baixa renda. 






Os municípios fundaram as COHABs, companhias destinadas a confeccionar e a executar projetos de habitação. Com os recursos provenientes do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), o BNH financiou a construção de unidades habitacionais em áreas periféricas das cidades brasileiras. A COHAB-SP começou a adquirir terras em Itaquera no fim dos anos 1960. Em novembro de 1974, o então prefeito Miguel Colasuonno apontou, segundo o jornal Folha de S.Paulo, a demanda de passageiros e as boas condições para a construção de um pátio de manobras como as principais razões para a escolha de Itaquera como estação terminal da linha. 


As boas condições para a construção do pátio consistiam justamente no fato de o poder público possuir terrenos na região, aspecto mencionado por entrevistados como o ex-presidente do Metrô Plínio Assmann e, ainda que sem grande destaque, por documentos como o parecer da Comissão Mista. A proposta de ligar os bairros da Lapa e de Itaquera remetia à proposta do PUB, referência para os planejadores do Metrô. Não podemos afirmar que o PUB influenciou a decisão da Comissão Mista, mas se pode ressaltar a confluência entre as propostas e atribuir essa confluência às características que Itaquera possuía no início dos anos 70: o bairro era servido pela antiga linha férrea e tinha terrenos disponíveis. 

Além disso, era de conhecimento público que a COHAB pretendia construir moradias no bairro e que a prefeitura havia incluído Itaquera no programa CURA (Comunidades Urbanas de Recuperação Acelerada), criado pelo BNH. Ao optar pelo traçado até Itaquera, a Comissão Mista criou condições para que a Prefeitura de São Paulo viabilizasse a articulação do projeto do Metrô com o projeto de habitação e obtivesse o apoio do BNH, grande agente nacional de financiamento de projetos urbanos da época. Em 1975, a prefeitura tomou medidas que fizeram a relação entre Metrô e COHAB passar do nível da confluência para o da articulação. 


Primeiro, criou um Grupo de Trabalho presidido pelo Coordenador Geral de Planejamento da Prefeitura e formado pelos presidentes do Metrô, da COHAB e da EMURB (Empresa Municipal de Urbanização)7 para elaborar um relatório de avaliação das proposições de uso e recomendar trabalhos para área Z8-012, que correspondia a Itaquera.


Ao assumir a prefeitura em abril daquele ano, o empresário Olavo Setúbal baixou um decreto vinculando empresas como Metrô, COHAB e EMURB ao seu gabinete9 . Além disso, segundo Marques, o prefeito tomou a iniciativa de criar a Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano (2003, p. 65). Todos os órgãos envolvidos no Grupo de Trabalho criado pela Prefeitura para planejar a ocupação de Itaquera produziram ainda em 1975 documentos relacionados ao projeto de implantação da linha Leste-Oeste do Metrô, levando em consideração a futura construção em Itaquera de conjuntos habitacionais por parte da COHAB e enfatizando a necessidade de se promover o desenvolvimento urbano do bairro. Em novembro daquele ano, a COHAB concluiu o documento Política e Proposta de Ação, que anunciava uma nova fase da companhia e apontava Itaquera como seu futuro canteiro de obras principal. No mês seguinte, de acordo com o jornal Folha de S.Paulo, Metrô e COHAB, com a articulação da prefeitura, acertaram a transferência de uma área para que o primeiro implantasse suas instalações em Itaquera. O Metrô pagaria 32 milhões e 800 mil cruzeiros, o que ajudaria a COHAB a acelerar a implantação de seus projetos de moradia. No conjunto de medidas adotadas em 1975 em função do projeto de implantação do metrô na Zona Leste, também houve preocupação com o zoneamento. Em 2 de dezembro, a Câmara Municipal aprovou a lei nº 8.328, que criou um zoneamento especial para a região de inserção do metrô, o que poderia permitir a renovação e o desenvolvimento urbano numa longa faixa do Brás até Itaquera que incluía a antiga Z8-012, em Itaquera. 

 De acordo com entrevistas que realizamos, a direção da Companhia do Metropolitano tinha interesse na construção dos conjuntos da COHAB porque se preocupava com a possibilidade de haver baixa demanda pelo sistema de transporte em Itaquera. Além disso, o BNH e a COHAB pretendiam fornecer aos novos conjuntos uma estrutura urbana mais adequada do que a dos conjuntos erguidos nos anos 1960, o que incluía a preocupação com o transporte. Se a articulação prevaleceu no momento do planejamento e da viabilização dos projetos de transporte e habitação em Itaquera, a execução foi marcada por descompassos. 

Os primeiros moradores dos conjuntos habitacionais ali construídos tiveram de esperar dez anos até que o Metrô viesse a atender o bairro. Em poucos anos, a COHAB conseguiu implantar os projetos previstos para a área de Itaquera I, formada por três conjuntos. E enquanto construía e entregava esse primeiro complexo no fim dos anos 1970, concebeu e passou a executar um projeto ainda maior – o de Itaquera II e III – que não fora cogitado até 1975. Somados, os quatro conjuntos principais implantados em Itaquera têm 34.122 unidades habitacionais – sobretudo, apartamentos - e uma população que beirava os 165 mil moradores em 2000 (NAKANO, 2002, p. 102 e 118-121), superando em muito suas próprias previsões iniciais.

O avanço do metrô foi mais lento. A obra do pátio de Itaquera começou em janeiro de 1976, mas a implantação da linha teve início na região central, no trecho Sé-Brás, onde houve uma grande intervenção urbana. A Companhia do Metropolitano enfrentou dificuldades financeiras para executar a obra, precisou contar com recursos do próprio BNH e mudou de esfera administrativa em 1979, quando o governo estadual assumiu seu controle acionário. 


O extremo leste da linha só foi entregue em 1988. As estações Brás, Tatuapé e Corinthians-Itaquera são os pontos de conexão do tramo leste do metrô com a linha 11-Coral, sucessora da antiga Central do Brasil. As estações Artur Alvim e Corinthians-Itaquera, as últimas do lado leste e as mais próximas dos conjuntos da COHAB, vem se mantendo entre as mais movimentadas de toda a rede metroviária. Em 2012, na média dos dias úteis, 91 mil pessoas ingressaram na rede pela estação Corinthians-Itaquera, o sexto maior índice da malha.




Pela estação Artur Alvim, ingressaram diariamente 73 mil pessoas na rede metroviária10 . A opção pelo traçado até Itaquera e medidas tomadas para articular outros projetos à linha 3-Vermelha deram características únicas ao tramo leste do metrô e acrescentaram aspectos singulares à Zona Leste. A própria alteração de traçado é uma característica peculiar. Das quatro linhas de metrô implantadas no centro expandido de São Paulo, somente a Leste-Oeste difere significativamente do traçado proposto originalmente pelo HMD.  

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