A ocupação de Itaquera começou no fim da década de 1910 e se acelerou nas
décadas de 1950 e 1960. No começo dos anos 1970, o bairro ainda contava com vazios
urbanos e áreas rurais remanescentes, com uma distribuição de população desigual.
Mesmo em partes mais antigas do bairro a estrutura urbana era deficiente.
A precariedade e a carência de moradias no país levaram a ditadura a montar o SFH
(Sistema Financeiro de Habitação) e a criar o BNH (Banco Nacional da Habitação) para
implantar uma política habitacional centrada na construção de casas e apartamentos para a
população de baixa renda.
Os municípios fundaram as COHABs, companhias destinadas a
confeccionar e a executar projetos de habitação. Com os recursos provenientes do FGTS
(Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), o BNH financiou a construção de unidades
habitacionais em áreas periféricas das cidades brasileiras. A COHAB-SP começou a adquirir
terras em Itaquera no fim dos anos 1960.
Em novembro de 1974, o então prefeito Miguel Colasuonno apontou, segundo o
jornal Folha de S.Paulo, a demanda de passageiros e as boas condições para a construção
de um pátio de manobras como as principais razões para a escolha de Itaquera como
estação terminal da linha.
As boas condições para a construção do pátio consistiam
justamente no fato de o poder público possuir terrenos na região, aspecto mencionado por
entrevistados como o ex-presidente do Metrô Plínio Assmann e, ainda que sem grande
destaque, por documentos como o parecer da Comissão Mista.
A proposta de ligar os bairros da Lapa e de Itaquera remetia à proposta do PUB,
referência para os planejadores do Metrô. Não podemos afirmar que o PUB influenciou a
decisão da Comissão Mista, mas se pode ressaltar a confluência entre as propostas e
atribuir essa confluência às características que Itaquera possuía no início dos anos 70: o
bairro era servido pela antiga linha férrea e tinha terrenos disponíveis.
Além disso, era de
conhecimento público que a COHAB pretendia construir moradias no bairro e que a
prefeitura havia incluído Itaquera no programa CURA (Comunidades Urbanas de
Recuperação Acelerada), criado pelo BNH.
Ao optar pelo traçado até Itaquera, a Comissão Mista criou condições para que a
Prefeitura de São Paulo viabilizasse a articulação do projeto do Metrô com o projeto de
habitação e obtivesse o apoio do BNH, grande agente nacional de financiamento de projetos
urbanos da época. Em 1975, a prefeitura tomou medidas que fizeram a relação entre Metrô
e COHAB passar do nível da confluência para o da articulação.
Primeiro, criou um Grupo de
Trabalho presidido pelo Coordenador Geral de Planejamento da Prefeitura e formado pelos
presidentes do Metrô, da COHAB e da EMURB (Empresa Municipal de Urbanização)7
para
elaborar um relatório de avaliação das proposições de uso e recomendar trabalhos para
área Z8-012, que correspondia a Itaquera.
Ao assumir a prefeitura em abril daquele ano, o empresário Olavo Setúbal baixou um
decreto vinculando empresas como Metrô, COHAB e EMURB ao seu gabinete9
. Além disso,
segundo Marques, o prefeito tomou a iniciativa de criar a Secretaria de Habitação e
Desenvolvimento Urbano (2003, p. 65). Todos os órgãos envolvidos no Grupo de Trabalho
criado pela Prefeitura para planejar a ocupação de Itaquera produziram ainda em 1975
documentos relacionados ao projeto de implantação da linha Leste-Oeste do Metrô, levando
em consideração a futura construção em Itaquera de conjuntos habitacionais por parte da
COHAB e enfatizando a necessidade de se promover o desenvolvimento urbano do bairro.
Em novembro daquele ano, a COHAB concluiu o documento Política e Proposta de
Ação, que anunciava uma nova fase da companhia e apontava Itaquera como seu futuro
canteiro de obras principal. No mês seguinte, de acordo com o jornal Folha de S.Paulo,
Metrô e COHAB, com a articulação da prefeitura, acertaram a transferência de uma área
para que o primeiro implantasse suas instalações em Itaquera. O Metrô pagaria 32 milhões
e 800 mil cruzeiros, o que ajudaria a COHAB a acelerar a implantação de seus projetos de
moradia.
No conjunto de medidas adotadas em 1975 em função do projeto de implantação do
metrô na Zona Leste, também houve preocupação com o zoneamento. Em 2 de dezembro,
a Câmara Municipal aprovou a lei nº 8.328, que criou um zoneamento especial para a região
de inserção do metrô, o que poderia permitir a renovação e o desenvolvimento urbano numa
longa faixa do Brás até Itaquera que incluía a antiga Z8-012, em Itaquera.
De acordo com entrevistas que realizamos, a direção da Companhia do
Metropolitano tinha interesse na construção dos conjuntos da COHAB porque se
preocupava com a possibilidade de haver baixa demanda pelo sistema de transporte em
Itaquera. Além disso, o BNH e a COHAB pretendiam fornecer aos novos conjuntos uma
estrutura urbana mais adequada do que a dos conjuntos erguidos nos anos 1960, o que
incluía a preocupação com o transporte.
Se a articulação prevaleceu no momento do planejamento e da viabilização dos
projetos de transporte e habitação em Itaquera, a execução foi marcada por descompassos.
Os primeiros moradores dos conjuntos habitacionais ali construídos tiveram de esperar dez
anos até que o Metrô viesse a atender o bairro. Em poucos anos, a COHAB conseguiu
implantar os projetos previstos para a área de Itaquera I, formada por três conjuntos. E
enquanto construía e entregava esse primeiro complexo no fim dos anos 1970, concebeu e
passou a executar um projeto ainda maior – o de Itaquera II e III – que não fora cogitado até
1975. Somados, os quatro conjuntos principais implantados em Itaquera têm 34.122
unidades habitacionais – sobretudo, apartamentos - e uma população que beirava os 165
mil moradores em 2000 (NAKANO, 2002, p. 102 e 118-121), superando em muito suas
próprias previsões iniciais.
O avanço do metrô foi mais lento. A obra do pátio de Itaquera começou em janeiro
de 1976, mas a implantação da linha teve início na região central, no trecho Sé-Brás, onde
houve uma grande intervenção urbana. A Companhia do Metropolitano enfrentou
dificuldades financeiras para executar a obra, precisou contar com recursos do próprio BNH
e mudou de esfera administrativa em 1979, quando o governo estadual assumiu seu
controle acionário.
O extremo leste da linha só foi entregue em 1988.
As estações Brás, Tatuapé e Corinthians-Itaquera são os pontos de conexão do
tramo leste do metrô com a linha 11-Coral, sucessora da antiga Central do Brasil. As
estações Artur Alvim e Corinthians-Itaquera, as últimas do lado leste e as mais próximas dos
conjuntos da COHAB, vem se mantendo entre as mais movimentadas de toda a rede
metroviária. Em 2012, na média dos dias úteis, 91 mil pessoas ingressaram na rede pela
estação Corinthians-Itaquera, o sexto maior índice da malha.
Pela estação Artur Alvim, ingressaram diariamente 73 mil pessoas na rede metroviária10 . A opção pelo traçado até Itaquera e medidas tomadas para articular outros projetos à linha 3-Vermelha deram características únicas ao tramo leste do metrô e acrescentaram aspectos singulares à Zona Leste. A própria alteração de traçado é uma característica peculiar. Das quatro linhas de metrô implantadas no centro expandido de São Paulo, somente a Leste-Oeste difere significativamente do traçado proposto originalmente pelo HMD.
Pela estação Artur Alvim, ingressaram diariamente 73 mil pessoas na rede metroviária10 . A opção pelo traçado até Itaquera e medidas tomadas para articular outros projetos à linha 3-Vermelha deram características únicas ao tramo leste do metrô e acrescentaram aspectos singulares à Zona Leste. A própria alteração de traçado é uma característica peculiar. Das quatro linhas de metrô implantadas no centro expandido de São Paulo, somente a Leste-Oeste difere significativamente do traçado proposto originalmente pelo HMD.
Nenhum comentário:
Postar um comentário