Recuperação de estruturas de concreto armado exige planejamento e documentação dos serviços
Trincas, fissuras e manchas no concreto podem indicar problemas nas edificações que não devem ser ignorados e merecem reparo imediato
Em muitas edificações, problemas estruturais costumam aparecer bem antes de seus 50 anos de vida. Esse é o prazo mínimo de vida útil de projeto estabelecido pela NBR 15.575:2013 - Edificações Habitacionais - Desempenho, cuja exigibilidade está completando dois anos neste mês de julho.
Geralmente, esses problemas estão associados à carência de boas técnicas durante a execução da obra, aliados à falta de manutenção e acompanhamento periódico dos sistemas construtivos por profissionais especializados.
A NBR 6.118:2014 - Projeto de Estruturas de Concreto - Procedimento é a norma que classifica os mecanismos de envelhecimento e deterioração das estruturas de concreto, que podem ser resumidos em dois fatores principais: causas intrínsecas, ou seja, inerentes à própria estrutura, e causas extrínsecas, externas ao corpo estrutural. Dentre esses, podem existir problemas de origem mecânica, física, química e eletroquímica .
No Brasil, a corrosão de armaduras é o mecanismo de deterioração de maior incidência. "Ela provoca fissuras e desplacamentos de concreto, que acontecem porque o produto da corrosão do aço ocupa um volume maior que o metal original, ocasionando tensões de tração no cobrimento de concreto", explica o engenheiro Alessandro Di Lotti, especialista em recuperação de estruturas e diretor da Lotti Engenharia e Construção.
Segundo Adriana Araújo, pesquisadora do Laboratório de Corrosão e Proteção do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), é comum que a corrosão em edificações comece na base dos pilares, área mais exposta à água e agentes químicos durante as lavagens do piso das garagens. Outro local em que comumente ocorre o problema é nas juntas de dilatação, também por conta de infiltrações.
O processo de degradação dos pilares é bastante preocupante. "Por se tratar de elemento estrutural de suporte de um conjunto de lajes e vigas, pode levar ao colapso da estrutura no seu todo", destaca.
Análise dos problemas
Recuperar uma estrutura danificada pode ser mais complexo do que construir uma nova. Isso porque ela pode estar em uso, o que dificulta os trabalhos, e também pode faltar a documentação necessária para análises, em especial em edifícios mais antigos. Por isso, a qualidade do processo de investigação é essencial para o diagnóstico certeiro e a escolha da solução (ou soluções) a ser adotada. "Muitas das doenças estruturais não se manifestam claramente ou são encobertas por outras, podendo passar despercebidas.
Portanto, quanto mais criteriosa e aprofundada for a fase avaliativa, maiores serão os índices de acerto e eficiência da solução indicada".
Para determinar a origem dos problemas, o processo começa com uma vistoria inicial, para avaliar os "sintomas" externos existentes. "Alguns pontos que devem ser observados pelo profissional são a presença de fissuras e trincas, a corrosão da armadura, as desagregações, as manchas na superfície, a deformação excessiva e a deficiência na concretagem", enumera Flávia Sobreira de Oliveira, engenharia civil pós-graduada em Patologias da Construção e gerente de Tecnologia da Método Potencial Engenharia.
Feita essa primeira análise visual, inicia-se a etapa de investigação dos dados da construção. É essencial levantar informações como idade da edificação, uso a que ela esteve submetida, fatores ambientais e presença de agentes com potencial de agressão à estrutura, e identificar as normas técnicas com base nas quais a estrutura foi projetada e construída.
Outro ponto importante é a análise dos projetos executivos e de controles tecnológicos, histórico de possíveis reformas e construções vizinhas. "Se os projetos não estiverem mais disponíveis, há necessidade de levantamento geométrico para caracterização física da edificação e da estrutura".
Segundo as análises básicas e ensaios pouco invasivos também são importantes ferramentas para ajudar a montar o quadro geral do problema. Entre eles se destacam a retirada pontual de argamassa e concreto para determinação de espessura do cobrimento de concreto, a utilização de fissurômetro e plaquetas de vidro para dimensionamento de fissuras e detecção de movimentação nas mesmas, a deterioração por ataque de sulfatos e íons cloretos, e a carbonatação.
Se mesmo assim ainda não for possível fechar o diagnóstico, parte-se para avaliações mais aprofundadas. "De acordo com o tipo de problema apresentado pela estrutura, serão necessários testes e ensaios tecnológicos específicos. Os mais comuns utilizados nestes casos são a esclerometria, a ultrassonografia, as provas de cargas e a extração de testemunhos".
Somente após o cumprimento de todas essas etapas é que será possível determinar, com exatidão, a extensão dos problemas nas estruturas, se será uma recuperação apenas ou um reforço (procedimento mais complexo e oneroso) e como serão feitos os trabalhos. "Importante frisar que o processo de deterioração não reside em apenas uma única causa".
Planejamento e entrega
Com o diagnóstico em mãos, parte- se para o planejamento de como serão feitos os reparos. Ele deve levar em conta se a edificação estará em uso durante as obras, para tentar diminuir o impacto sobre os usuários do local. "Os cuidados durante a execução dos serviços passam, ainda, pelo envolvimento de especialistas e profissionais capacitados, ensaios laboratoriais de aderência e resistência, entre outros, no início, durante e no fim do processo"
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