Em São Paulo, a Companhia Metropolitana de Habitação “foi criada pela lei n.º 6.738, de 16 de novembro de 1965, como uma sociedade anônima de
economia mista, cuja principal acionária é a Prefeitura do Município de São
Paulo, que detém 99% das ações preferenciais”, tendo por missão “garantir acesso à moradia para a população de menor renda, desenvolvendo programas habitacionais e promovendo a construção de novas unidades”, abrangendo o município e sua região metropolitana (COHAB, 2008, organização). Apesar da ampla
possibilidade de atuação, sua atividade até hoje está associada à construção dos
conjuntos habitacionais (Cohabs) para população de baixa renda:
O Estado, atuando como promotor imobiliário, aproxima o mercado de moradias de suas demanda nas favelas e cortiços, subsidiando a produção. Viabiliza
a compra de terrenos, administra a construção, cobre parte dos custos. Com isso, coloca mais um elemento na paisagem da periferia: os conjuntos de habitação social. (NOGUEIRA, 2003, v. 1, p. 7)
A partir de 1967, com recursos do BNH, foram construídos inúmeros
conjuntos habitacionais na região metropolitana de São Paulo pela COHAB,
sendo o período de maior investimento entre 1975 e 19864
. Os conjuntos criados
nesse período foram:
Com relação à construção, eram desenvolvidos projetos-tipo de blocos
de apartamentos, como uma estrutura espacial simplificada, que tinha as seguintes funções: organizar o espaço da futura moradia, orientar a empreiteira no momento da construção e relacionar o espaço construído com o custo de produção
(partindo de fórmulas – sala, cozinha, dois quartos, banheiro, área de serviço).
Mais uma vez, “o que chama a atenção nessa forma de projetar da COHAB é
que esses aspectos quantitativos organizacionais eram absolutamente preponderantes sobre os que se relacionavam com a qualidade do espaço de moradia, que
viria a se constituir o espaço concreto da vida de seus futuros habitantes”, tornando-se mais “um instrumento de garantia da construtibilidade da obra e da
lucratividade do empreendimento” (NOGUEIRA, 2003, p. 188 e 187).
A mesma finalidade se aplicava aos processos construtivos.
Os investimentos feitos a partir de 1975 pela COHAB e pelo BNH em novos processos
visando obter vantagens de custo e prazo levou-os a convocar várias empresas
para apresentar propostas, e nos quais foram testados vários sistemas construtivos, sendo os mais utilizados o de alvenaria estrutural e o de formas metálicas
deslizantes Outnord. Para Carolina M. P. de Castro, nas palavras de Nogueira,
“embora oficialmente a política habitacional do BNH pretendesse aumentar a
eficiência e a produtividade viabilizando uma produção em massa, as mudanças
técnicas construtivas introduzidas não reverteram em um aumento na qualidade
de habitação, e sim foram canalizadas para as empresas sob a forma de lucro”
(NOGUEIRA, 2003, v. 1, p. 191).
Carapicuíba, até os anos 70 era uma área eminentemente rural, com chácaras que produzia alimentos para abastecer a capital. Os três núcleos iniciais de
povoamento foram a secular Aldeia, o centro de Carapicuíba e o matadouro do
Km 21. Toda a região, a antiga Fazenda Carapicuíba e o Sítio Quitaúna5
, pertencia a Delfino Cerqueira, que as adquiriu em 1903. (TENÓRIO, 2003, p. 194).
Dentre os inúmeros negócios de Delfino, estava a atividade de marchante, possuindo, por volta de 1918, 15.000 cabeças engordando nas invernadas de
Conchas e Barretos, sendo nesta onde se localizava os principais campos de
engorda de gado que chegava a São Paulo na primeira metade do século.
Quando
trazido para São Paulo, o gado de Delfino era abatido ou no Matadouro Municipal da Vila Clementino (pertencente ao distrito da Vila Mariana) ou no Matadouro Wilson, localizado em Presidente Altino (divisa de Osasco e São Paulo), pertencente ao grupo americano de mesmo nome, um dos maiores fornecedores de
carne para a região metropolitana. Em 1920-21, Delfino Cerqueira estabeleceu à
margem da E.F. Sorocabana, na época próximo à divisa entre os municípios
Santana do Parnaíba e São Paulo, um pequeno matadouro de bovinos e outro de
suínos, respectivamente à direita e à esquerda da ferrovia, para abater seu próprio gado e abastecer a população paulistana (BENITES, 1978, p. 23).
Por conta do estabelecimento do matadouro, cerca de dois quilômetros
adiante foi construído em 1921 um desembarcadouro de gados junto à ferrovia,
visto que os trens da Sorocabana só paravam nas estações de Osasco (na época
distrito de São Paulo) e Barueri (então pertencente a Santana do Parnaíba)6
. Daí
seguiam em descanso de 15 por 15 em nove currais localizados nos morros entre
o desembarcadouro e o ribeirão Carapicuíba que compunham o Sítio da Fazenda
Velha, popularmente conhecida como Campo da Boiada, de onde seguiam para
abate. (TENÓRIO, 2003, p. 91 e 132-134)
Com o fechamento do Matadouro Municipal da Vila Clementino em
1927, o abate de gado dos marchantes passou a ser feito junto aos grandes frigoríficos estrangeiros como Wilson, Armour e Swift, pois a Prefeitura de São Paulo praticamente abandonou os marchantes sem um lugar para abate. Em 1938
uma lei municipal restabelecia os serviços municipais de matança de gado utilizando o matadouro de Delfino Cerqueira, que se tornou o Matadouro Municipal.
No ano seguinte, 1939, a prefeitura instituiu cotas de entradas de carne no entreposto municipal (tendal único), estabelecendo que 60% da carne viesse do Matadouro Municipal, o que deve ter feito com que, em 1943, 44, 38% da carne consumida em São Paulo fosse proveniente de Carapicuíba (BENITES, 1978, p.
116-117).
Talvez seja dessa época a imagem dos campos repletos de bois pela região, tendo em vista que no matadouro chegavam a ser abatidas 2500 cabeças
por dia, que entravam nos currais vindo da estação por uma ponte sobre o antigo
córrego da Pedreira. Paulo Tenório, tendo recolhido depoimentos sobre a localidade, nos diz que muitos boiadeiros morreram nessas terras atacados por bois
bravos, sendo comum encontrar cruzes em devoção à alma do falecido, assim
como aponta a dificuldade, por conta da boiada, de se atravessar a divisa entre
Osasco e Carapicuíba à noite. (TENÓRIO, 2003, p. 132-134)
A partir de final dos anos 50 e década de 60, Benites aponta que a localização de frigoríficos na Região metropolitana de São Paulo começa a se tornar
anti-econômica, fazendo com que grandes empresas estrangeiras encerrassem
suas atividades e/ou passassem suas atividades para os grupos nacionais (BENITES, 1978, p. 168 e ss). Nessa época o frigorífico de Carapicuíba deve ter sido
desativado (ainda não temos a data precisa), seu edifício permanecendo abandonado por muitos anos, transformando-se num cortiço em extensão à favela que
ficava próxima ao lixão, e demolido para a construção do Rodoanel (ALMEIDA,
2005 Apud Estações Ferroviárias, acessado em 22/02/2008.
Distante cerca de 24 quilômetros do centro de São Paulo (a oeste), o
conjunto ocupa uma área total de 2.500.000 m2
na qual foram construídos 357
edifícios com 13.366 apartamentos e 864 casas térreas/sobrados (vendidos a
prestações aos moradores), aos quais se acrescentaram com o tempo equipamentos sociais como escolas e postos de saúde, além das áreas livres (ORNSTEIN,
1992, v. 1, p. 1-20)8
.
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